Prof. Dr. Gilson Edmar Gonçalves e Silva.
Acadêmico Emérito da Academia Pernambucana de Ciências
Acadêmico Titular da Academia Pernambucana de Medicina
Professor Emérito da UFPE
Inicialmente gostaria de dizer a todos que sinto uma grande emoção ao receber esta homenagem e o reconhecimento da Academia Pernambucana de Ciências (APC). E junto com esta emoção, confesso, estou com um extraordinário sentimento gratidão e de alegria por este momento, tão importante na minha vida profissional.
Aqui cheguei em 1998, pelas mãos de Waldecy Pinto e aqui estou nestes 25 anos convivendo e aprendendo com a nata dos cientistas pernambucanos. Este privilégio guardo com carinho no meu hipocampo, o hardware das lembranças e das emoções do Sistema Nervoso.
O que representa uma Academia para um profissional? Respondo caminhando pela sua história. As primeiras academias foram fundadas na Grécia antiga por Platão, Aristóteles e Pitágoras. A chamada Academia de Ciências de Atenas nasceu em 387 AC. Platão criou o Ateneu, uma escola livre, baseado em diálogos, perto de Atenas nos jardins dedicados à Deusa Academus. Em 529 AC foram fechadas por ordem do Imperador Justiniano.
Ressurgiram em Firenze, na Renascença italiana, vindo depois as da França, Espanha e Portugal. Na Idade Média as Universidades, primeiro a de Bologna e depois a de Paris, desempenharam este papel.
Começaram a se desenvolver as Academias de Letras. No Brasil foi criada, a Academia Brasileira dos Esquecidos e depois a dos Renascidos. A primeira Academia de Letras foi a Cearense, em 1894. Três anos após foi fundada a Academia Brasileira de Letras. Inspirada neste modelo, foi criada a de Pernambuco em 1901
A primeira revolução industrial fez surgir uma Academia de Ciências na Inglaterra e outra na França, em busca do mérito do trabalho científico. No Brasil o desenvolvimento científico se deu a partir da vinda de D. João VI, que criou a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico e as duas primeiras Faculdades de Medicina, em Salvador e no Rio de Janeiro, por orientação de Correia Picanço, médico pernambucano, nascido em Goiana e com estudos em Portugal. Comemoramos os 200 anos do seu falecimento no dia 11 de outubro de 2023. No primeiro reinado ocorreu o desenvolvimento da biodiversidade e a criação de duas Faculdades de Direito, em Olinda e em São Paulo, além do Instituto Histórico e Geográfico. No segundo reinado, o Imperador D. Pedro II incentivou as artes, a literatura, a ciência e a tecnologia. Foram criadas a Escola Politécnica, o Serviço Sanitário e o Museu de História Natural. Na República o desenvolvimento científico e tecnológico começou com a criação da Escola de Engenharia de Pernambuco. É importante ressaltar a participação dos pernambucanos neste desenvolvimento científico nacional.
No campo das Ciências, surgiu em 1916 a Sociedade Brasileira de Ciências no Rio de Janeiro, semente da Academia Brasileira de Ciências, com três áreas: Matemática, Físico-Química e Biologia. Com o passar do tempo, foram agregadas outras áreas do conhecimento científico. Durou sete anos e fechou por questões políticas.
As Academias, ao longo do tempo, sempre superaram as dificuldades impostas, recriando-se e renovando seus conceitos.
Em Pernambuco, a origem da nossa Academia Pernambucana de Ciências foi o programa “O Grande Júri”, veiculado pela TV Universitária, criado e apresentado por Valter da Rosa Borges de 1968 a 1984. As discussões eram nas áreas das ciências, da tecnologia, da filosofia e da religião. O slogan do programa era “venha mudar o mundo conosco”.
Em 1978, Valter da Rosa Borges, Waldecy Pinto e um grupo e professores das nossas universidades criaram a nossa Academia Pernambucana de Ciências com a finalidade de promover o desenvolvimento de todos os setores do conhecimento humano, divulgando-os na Sociedade, realizando Eventos Científicos, garantindo a liberdade e os direitos individuais. Tudo isto para o compartilhamento de experiências e saberes, necessários à melhoria da qualidade de vida do nosso povo.
Esta história nos remete ao papel que as Academias de Ciências exercem nas atividades dos profissionais, atualizando-os com o progresso e a diversificação das diversas áreas do conhecimento.
A nossa Academia vem promovendo nestes quarenta e cinco anos de existência inúmeras reuniões periódicas. Uma menção especial deve ser feita aos seus Presidentes: Valter, Waldecy, Aleixo Anísio e atualmente Anderson. Durante longos anos, estes encontros ocorriam mensalmente na Universidade Católica, nas manhãs dos sábados. Tivemos encontros nos Auditórios do SENAI, do nosso eterno Espaço Ciência, entre outros, como também nos laboratórios de pesquisa. A Academia promoveu grandes e importantes Eventos sobre temas variados, como a Semana de Ciência e Tecnologia. Tivemos também reuniões itinerantes, com repercussões positivas na Sociedade. Durante a pandemia se utilizou as tecnologias digitais para continuar, de modo permanente, suas atividades. Os vários temas, novos e interessantes, foram abordados pelos acadêmicos e convidados, nas suas áreas de atuação. Tive o privilégio de apresentar, dentro da minha especialização médica, uma palestra intitulada “Crenças e gênios em Epilepsia”. Para não omitir nomes dos nossos cientistas e acadêmicos que foram destaques, farei menção a dois que já se encantaram: Adonis Carvalho e Ivon Fittipaldi, símbolos da nossa APC.
Estamos agora com uma sede, sonho de todos os acadêmicos, que foi conquistada pela gentil decisão da Reitoria da Universidade de Pernambuco de nos abrigar. Durante a Reunião de Ciência e Tecnologia organizada pela APC, o Reitor da UFPE, Prof. Alfredo Gomes, informou que vai disponibilizar um espaço no Campus para a sede definitiva da APC.
Quando a APC vai ao interior ou busca se aproximar das comunidades, exerce um papel social importante, a socialização da ciência. Estimular a iniciação científica com os jovens é um passo significativo para ampliar a Educação em todos os níveis e com isto promover desenvolvimento. Quando a APC se articula com os diversos segmentos das ciências, coloca-se no patamar que sempre buscou estar e com isto vem atingindo seus objetivos.
Outra ação extraordinária que a APC deu nos últimos anos foi a defesa intransigente da ciência nas decisões que nortearam a luta para combater a Pandemia do Covid 19. Combateu as propostas sem base científica e foi uma das instituições que se manteve vigilante nas condutas que vieram beneficiar a nossa população.
Quero agradecer a todos que fizeram menção a mim nesta solenidade, que entendo como uma imensa bondade de cada um e um sinal de sincera amizade. Sou imensamente grato aos que organizaram este momento de celebração, engrandecendo a nossa Entidade
Peço permissão para fazer menção a Thadeu, um irmão que assim o designei na maturidade por estarmos juntos na nossa UFPE em todos os momentos. E a Fernando Machado, companheiro fiel na Academia e no vinho. Thadeu surgiu por acaso, não o conhecia e uma circunstância me fez convidá-lo para ser, no CCS, Vice-Diretor, enquanto eu Diretor, e depois ele foi eleito Diretor me sucedendo. Foi uma afinidade à primeira vista. Fernando era Diretor da FACEPE e o encontrei na festa do 14 de julho do Consulado Francês. Chegamos cedo e como eu não conhecia os convidados, me aproximei dele. Daí por diante não nos afastamos jamais. Tudo isto vale para Fátima e Edva, pois se não as mencionasse, com certeza serei reprendido por minha mulher, amiga delas. Nem tudo são flores, pois os dois nada me contaram como seria Solenidade.
Para meus familiares minha expressão de amor, minha amada esposa Vitória, meus queridos filhos e filhas, genros e noras, netos e netas, irmã, todos sob o manto daqueles onde tudo começou: meus pais. Já não se encontram mais entre nós fisicamente, porém a cada momento os invocamos, como nesta importante celebração, que representa tudo o que fizeram por nós.
Por tudo o que a APC fez, faz e fará sempre, tenho muito orgulho de pertencer a esta Instituição, que honra a todos nós pela sua posição como defensora e estimuladora da liberdade da pesquisa científica, da Ciência, da Tecnologia e da Inovação.
VIVA A APC!