HOMENAGEM PÓSTUMA DA ACADEMIA PERNAMBUCANA DE CIÊNCIAS AO SEU ACADÊMICO BÉDA BARKOKÉBAS JR.

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Carlos Fernando de Araújo Calado (APC, Cadeira #29)

 

 

Béda Barkokébas Jr.

Conheci Béda como aluno de graduação do curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica da UPE nos anos oitenta. Impossível não lembrar daquele aluno que já agia, intuitivamente, de acordo com conceitos atuais de Educação 5.0, os quais começam a ser discutidos de forma ainda incipiente quase quarenta anos após. Ele era inquieto e já trazia uma rica experiência acadêmica e profissional que o destacava entre os colegas e o projetava como uma liderança natural. Ali, como professor, comecei a aprender muita coisa com o aluno.

Reencontro Béda já de volta do seu doutorado em Barcelona, tendo assumido a chefia do Departamento de Engenharia Civil da Poli. Lembro que uma das suas primeiras missões na função foi receber uma Comissão do MEC, liderada pelo professor Humberto Lima Soriano da COPPE/UFRJ, para avaliação do curso de Engenharia Civil. Ele solicitou minha participação na equipe para receber e discutir as questões relativas ao processo com a comissão de avaliação. Vencida essa etapa, solicitou a todos os professores do Departamento a atualização do projeto pedagógico das suas respectivas disciplinas. Preparei com todo empenho o material e fui entregar pessoalmente. Ele avaliou tudo, agradeceu e elogiou o trabalho, sugerindo que eu desse destaque a possíveis atividades de intercâmbio internacional, com o que concordei de pronto.

Fomos nos aproximando, ele sempre tomando a iniciativa nesta aproximação. Ao ser eleito diretor da Escola Politécnica em 2002, com o seu imprescindível apoio, solicitei a Aronita Rosenblatt sua volta à Poli para ocupar a Coordenação de Pós-Graduação da Escola, com o desafio de revolucionar o que ali se fazia. Como esperado, desempenhou muito bem a função, contribuindo com várias ações de importância fundamental, entre outras, o início do programa de Mestrado de Engenharia Civil. Depois, como Reitor da UPE, Béda me acompanhou durante meus dois mandatos, ocupando a Pró-Reitoria de Planejamento.

Nesse período, desenvolvemos na UPE um ousado programa de ampliação e reestruturação física dos seus campi, incluindo a própria reitoria e a infraestrutura para o aprofundamento da interiorização, com recursos federais e estaduais. Confiei a tarefa ao professor Béda e sua equipe. Tudo que foi aplicado foi prestado contas e aprovado nas instâncias competentes, seja em Ministérios e Secretarias, seja em órgãos de controle federal ou estadual.

Pessoa determinada e aguerrida, obteve sucesso nos seus projetos pessoais e profissionais. No entanto, sua trajetória de vida teve alguns reveses marcantes. Num dos momentos em que pudemos conversar com mais tranquilidade, ele me contou como foi difícil perder o pai de forma abrupta quando ainda estava na pré-adolescência e depois, ainda muito jovem, o irmão mais novo vítima de acidente. Talvez isto tenha ajudado a moldar o Béda guerreiro, lutador. Poderia ter se tornado amargo, egoísta, truculento, individualista, no entanto se tornou doce, altruísta, magnânimo e solidário. E se perceba que, há aproximadamente dezesseis anos, ele vinha lutando com uma doença que nem todos conseguem enfrentar com a garra exigida. Importante levar em consideração que em todo esse período Béda atuou de forma ousada e destemida construindo soluções profissionais e acadêmicas e, junto com Laura, construindo uma bela família. Seus olhos sempre brilhavam quando falava de Bedinha e Enric. Impossível esquecer a alegria dele no casamento de Bedinha.

Muito a contar, muito a comentar, muita homenagem a render ao amigo. Mas, compartilho este espaço que a Academia Pernambucana de Ciências nos dá para que algumas outras pessoas possam também deixar uma mensagem sobre Béda. O professor Rodrigo Pellegrino apresenta relato sucinto da passagem de Béda pela UNICAP. Ingressou nesta Universidade em 24 de fevereiro de 1997, lotado no então Departamento de Engenharia do Centro de Ciências e Tecnologia. Por vários anos lecionou as disciplinas de Instalações Prediais, de Segurança e Higiene do Trabalho, além de Instalações Hidrossanitárias. Em 1998, foi designado para compor o Comitê local de seleção dos candidatos ao Programa de Iniciação Científica. Foi designado Presidente da CIPAUNICAP para o mandato de janeiro de 2018 a janeiro de 2019. Pediu licença sem vencimentos para tratamento de saúde a partir de 01.05.2020 até 30.04.2021. Esta licença foi interrompida por seu falecimento em 24 de janeiro de 2021. Pessoa de trato fácil tinha por característico o sorriso agradável e a risada farta. É assim que lembraremos dele.

O professor Alexandre Gusmão expõe a importância de Béda para a Pós-Graduação da Poli. Béda trabalhava na coordenação de pesquisa da UPE, com o Reitor Emanuel Dias e a Pró-reitora era Aronita Rosenblat. Béda veio para a Poli e assumiu a CPG. Convidou-me para trabalhar com ele. Nascia uma grande amizade. Nos juntamos com Calado, Zé Roberto e outros colegas. A Poli tinha 90 anos. Pensamos em uma nova Poli. Não seria viável mais 90 anos no mesmo modelo. Começava ali uma transição na velha escola da Rua Benfica.

A Poli tinha menos de 10 doutores, entre eles Béda, um dos pioneiros. Decidimos que a Poli teria uma pós-graduação stricto sensu. Mas como conseguir isto naquela instituição quase centenária cheia de história e vícios? Com a reeleição de Emanuel Dias como Reitor, Béda assume a Proplan e eu assumo a CPG. A missão era o primeiro mestrado da Poli. A primeira tentativa foi um programa multidisciplinar envolvendo meio ambiente urbano. Submetemos a proposta à Capes, mas o programa não foi aprovado. Um conjunto de doutores não era suficiente para abrir um mestrado. Faltava unidade e consistência.

Fizemos uma avaliação crítica e surgiu a ideia de pleitear junto à reitoria umas vagas de docentes de Engenharia Civil, com o propósito de criar um programa de Engenharia Civil. Béda na reitoria, Calado na direção da Poli, e eu na CPG, montamos a estratégia e conseguimos o apoio de Emanuel e Aronita. Fizemos um concurso importante: Casado, Stela e Emília chegam e trazem o entusiasmo e a competência. Era o que faltava. Não seria fácil, pois tínhamos formações muito distintas. Como criar uma unidade? A área foi escolhida por sugestão de Casado. Seria o primeiro programa em construção civil da região.

Béda conseguiu por meio do Sinduscon e Sebrae um grande projeto de pesquisa que faltava para dar densidade à proposta. Em um ano, a Poli aprovou dois programas de mestrado. Nascia o PEC. Tive a honra de dar seu nome e ser o primeiro coordenador. No dia 12/11/2008 tivemos a primeira defesa com o aluno Sérgio Braga, sob orientação de Béda. Sempre ele. Orientou mais 24 dissertações no PEC.

De lá para cá, consolidou o LSHT como um dos mais importantes grupos de pesquisa em segurança do trabalho do Brasil. O PEC formou quase duzentos mestres. A Poli é outra. Quase 100 docentes com doutorado. Quatro programas stricto sensu, com participação de 40% do seu corpo docente. O sonho de Béda virou realidade. Ele nunca quis o protagonismo fácil dos cargos. Preferia a ação efetiva. Doou a parte mais produtiva da sua vida a Escola. Solidariedade, amor e cumplicidade eu encontrei em Béda. Ganhei um amigo e depois um irmão mais velho.

A professora Bianca Vasconcelos descreve a relação de Béda e o Laboratório de Segurança e Higiene do Trabalho (LSHT). Há quase quinze dias nos despedimos do Professor, amigo e coordenador Béda. Partiu um irmão de todos nós, um querido e insubstituível mestre, colega e amigo de todas as horas. Um ser humano diferenciado – por sua respeitável trajetória de vida e por sua dedicação às causas em que ele acreditava. Mudou-se deste plano alguém que nos honrou com a sua importante contribuição no universo acadêmico, repleto de desafios motivadores e permanentes. Perdemos um líder natural, com quem contávamos e em quem confiávamos por sua notável capacidade de agregar, de mobilizar a nossa equipe, de se fazer respeitar por suas convicções e embasamentos científicos. Mas não somos os donos dos nossos destinos. Na hora marcada – no dobrar dos sinos – saímos de cena; no caso dele, para brilhar em outro Plano. Béda nos deixa um legado precioso que vale sempre registrar e relembrar, em respeito à sua digna memória.

Formado em Engenharia Civil pela UPE, fez mestrado na UFPB e doutorado e pós-doutorado em Engenharia Rodoviária pela Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, na Espanha. Foi responsável pela formação de várias gerações de engenheiros em Pernambuco e atuou como consultor ad hoc no CNPq e do Sindicato da Industria da Construção Civil do Estado de Pernambuco.

Foi agraciado, por mérito, com várias medalhas e homenageado em reconhecimento por seus incontáveis feitos, notadamente na sua área de maior atuação, onde dedicou boa parte de seus esforços e algumas dezenas de anos de sua vida, “PARA SALVAR VIDAS”.

A atividade no campo da pesquisa o mobilizava sobremaneira, e o fazia buscar soluções inéditas e inovadoras, despertando em seus alunos o prazer do conhecimento em busca da excelência.

Nesta destacada UPE, Béda Barkokébas Junior exerceu o cargo de Pró-Reitor de Planejamento na gestão dos ex-reitores da instituição, Emanuel Dias e Carlos Calado, foi Chefe de Departamento, líder do grupo de pesquisa “Ergonomia, Higiene e Segurança do Trabalho”, registrado no CNPq. Atuou também como docente da UNICAP, Consultor ad hoc do CNPq, estruturou e coordenou a Campanha de prevenção de acidentes do trabalho na indústria da Construção, do SINDUSCON/PE, e professor permanente do quadro do Mestrado em Engenharia Civil da UPE.

Mas sua menina dos olhos foi a criação do Laboratório de Segurança e Higiene do Trabalho – LSHT, que ele coordenava, e conseguia realizar suas pesquisas técnicas via parcerias, interagindo a academia com o setor produtivo, por meio do qual conseguiu ajudar a formar muitos dos engenheiros que podemos encontrar hoje no mercado de trabalho. O Prof. Béda tinha o espírito dos visionários.

É uma honra – e sempre será – poder homenageá-lo, a difundir seu legado, com a certeza de que – onde estiver, Béda continua sendo a nossa agradável, confiável e sempre fonte permanente de inspiração, e por quem – em nome da amizade e em respeito à sua memória, haveremos de prosseguir nesta missão que encampamos conjuntamente, de ver o nosso trabalho triunfar e dar frutos, salvando vidas.

Até um dia, Prof. Béda. Seguimos daqui. Conte conosco.

Mensagem da professora Aronita Rosenblatt representando tantos amigos.

Para você ter uma ideia. Era assim que o querido Béda conduzia uma conversa. A cada ponto final de uma frase ele acrescentava o bordão: para você ter uma ideia, sempre sorrindo e usando os seus inseparáveis suspensórios.

Fiquei irmã desse amigo no ano de 1987, quando pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão da FESP, hoje UPE, quando, já graduado em Educação Física, judoca e Engenharia Civil, planejava a sua pós-graduação na Espanha, em Seguridad Integral, pela Fundación Mapfre, Madri, Espanha, concluída em (1989).

Quando assumi a mesma Pró-Reitoria, agora no Mandato do Reitor Emanuel Dias, uma das condições foi ter como Coordenadores Béda e Aurélio Molina. Ele era conciliador, algumas vezes com uma brabeza que logo passava, amigo dos seus amigos e nunca soube que tivesse desafetos.

Béda vinha de uma família de músicos, seu avô fora um renomado maestro na Cidade do Recife e regera a orquestra judaica, no teatro Santa Izabel, com registro de fotos antigas, nos anos de 1920. Nas memórias desse querido amigo que partiu tão cedo, não tenho tristezas para contar. Nunca o vi triste. Em uma das muitas cirurgias a que se submeteu, fui passar horas divertidas em sua companhia no seu apartamento, na Estrada do Encanamento, sem ouvir uma queixa sequer.

No dia em que assumi a minha cadeira na Academia Pernambucana de Ciências, apadrinhada por Aleixo, ainda residindo em Boston e aqui no Recife em missão da Pós-Graduação da Universidade, os primeiros que avistei no auditório da UFRPE foram Béda e Laura. Era assim, com muita atenção, que eles demonstravam o carinho pelos amigos.

Da vida profissional, muitos vão ressaltar a importância de Béda como Professor da disciplina de Fundamentos de Engenharia de Segurança do Trabalho e coordenador do Laboratório de Segurança e Higiene do Trabalhador da Escola Politécnica da UPE. Como defensor de que alunos e professores não devem considerar apenas a produção científica, mas o estudo das necessidades do trabalho como um todo. Béda coordenou importantes campanhas de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Construção Civil, em Pernambuco, com apoio das representações de classe e do Sindicato da Indústria da Construção Civil e com isto se conseguiu reduzir as mortes de trabalhadores por choque elétrico e outras causas, a níveis de primeiro mundo. Formou pessoas e aprendeu com elas. Foi pró-reitor de planejamento no reitorado de Calado e com sua equipe da Pró-Reitoria administrou obras e ajudou a Universidade crescer fisicamente.

A última vez que vi o meu amigo ele estava muito feliz, no casamento de Bedinha. Muitos terão diferentes recordações dos momentos com ele, do seu trabalho, do Béda professor, do bom colega, do companheiro, do pai, do irmão; todos serão unânimes no seu otimismo com a vida. Com a pandemia não fiquei sabendo do agravamento do seu estado de saúde.

Como pode ser observado no mosaico de textos, há uma linha que conduz a versão prevalecente, Béda era uma pessoa admirada, com muito mais virtudes que defeitos.