COVID-19: ALGUMAS ESTATÍSTICAS DO BRASIL, DA EUROPA E DOS EUA

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Gauss M. Cordeiro (APC, cadeira #30)

1. Introdução

Esta pandemia vem produzindo uma catástrofe de ordem médica e epidemiológica com impactos sociais e econômicos sem precedentes na história do País1. A economia do Brasil foi devastada, com o comércio e o setor industrial sendo bastante afetados implicando num recuo de 5% do produto interno produto em 2020. Infelizmente, os nossos gestores foram inaptos no combate à pandemia com ações desconexas entre o governo federal e os governos estaduais e o atraso injustificável do planejamento da vacinação.

O objetivo deste texto é comparar e tentar explicar de forma concisa algumas estatísticas importantes da COVID-19 de países de economias mais expressivas e do Brasil. As conclusões deste texto se referem ao dia 19 de fevereiro de 2021, a partir de duas bases de dados internacionais2,3 e de uma plataforma do Brasil4. Nesta data, o mundo alcançou mais de 111 milhões de casos confirmados, mais de 86 milhões de pacientes recuperados e mais de 2,5 milhões de óbitos e, no Brasil, ocorreram 10,0 milhões de casos confirmados e 244.765 óbitos.

2. Estatísticas da Europa e dos Estados Unidos

A Europa detém 30% do total de casos confirmados do planeta e 32% dos óbitos, enquanto a América do Sul responde por 16% desses casos e por 18% dos óbitos. A grande proporção de óbitos da Europa, que agrega somente 7,9% da população mundial, pode ser explicada pela elevada expectativa de vida, maior disseminação do vírus decorrente da intensa mobilidade e por conta de cidades com grande densidade populacional. Os países da Europa Ocidental apresentam taxas de mortalidade com grande variabilidade no intervalo de 111 a 1.878 óbitos por milhão de habitantes. A Bélgica é o limite superior e a Noruega o limite inferior. Entre estes, podemos citar: Reino Unido (1.761), Itália (1.577), Portugal (1.554), Espanha (1.435), França (1.276), Suécia (1.248), Suíça (1.137), Holanda (882), Alemanha (811), Dinamarca (401) e Finlândia (131).

As seguintes variáveis independentes, estatisticamente significativas, foram determinadas ajustando modelos de regressão (beta e simplex) às taxas de mortalidade de vinte países da Europa Ocidental: densidade populacional (que tem grande variabilidade, sendo o limite superior 28 vezes o limite inferior), percentual da população urbana (varia de 54% a 98%) e o número de leitos nos hospitais por cem mil habitantes (varia entre 2 e 8). O índice de desenvolvimento humano (IDH) e a expectativa média de vida (estas duas variáveis apresentam pouca variabilidade) e a renda per capita (RPC) não são variáveis significativas, apesar da RPC apresentar grande variabilidade nestes países. A regressão beta se ajustou melhor às taxas de mortalidade desses países.

As trajetórias dos casos confirmados e óbitos nestes países têm formas bem distintas por conta das variáveis acima citadas, dos tempos distintos do início da pandemia, da maior ou menor disseminação do vírus e de políticas governamentais diferenciadas ao longo do tempo (a Suécia, por exemplo, não fez qualquer lockdown). Uma segunda onda surge quando os casos confirmados se tornam bem reduzidos e depois de algum período começam a crescer. Em todos os países da Europa Ocidental ocorreram, até agora, duas ondas da pandemia com períodos de crescimento bem distintos. No Reino Unido (RU), as duas ondas estão separadas por dois meses – entre 21 de junho e 23 de agosto de 2020 – em que a média móvel de 7 dias ficou estabilizada num patamar de mil casos por dia. O crescimento mais acentuado da segunda onda no RU ocorreu em 5 de dezembro de 2020 (com 15 mil casos/dia) até 10 de janeiro de 2021 (com 60 mil casos/dia), seguido depois de um declínio. Na Itália, o início da segunda onda ocorreu em 4 de outubro (com 2 mil casos/dia), com crescimento até 18 de novembro (com 35 mil casos/dia) e posterior declínio. Mesmo na Dinamarca (com uma população reduzida de 5,8 milhões de pessoas), o acréscimo da segunda onda é visível a partir de 13 de outubro (com 5 mil casos/dia) até 24 de dezembro (com 43 mil casos/dia) e posterior decréscimo.

No que se refere aos Estados Unidos, as taxas de mortalidade por COVID-19 nos seus 50 Estados e Distrito Federal variam num intervalo muito amplo de 302 a 2.5582, sendo a média global de 1.521 óbitos por milhão de habitantes. Um estudo amplo de regressão5, baseado nas regressões simplex, beta e reflexiva unitária Burr XII, demonstrou que a densidade populacional, IDH, coeficiente de Gini, número de leitos por cem mil habitantes, taxa de pobreza, proporção de fumantes, temperatura média e idade mediana da população são variáveis estatisticamente significativas para explicar a variabilidade destas taxas. As curvas de casos confirmados são bem distintas nas regiões dos EUA e em alguns delas ocorreram uma segunda onda e em outras não. Por exemplo, Mississippi, Califórnia, Texas e Washington tiveram apenas uma onda, enquanto Florida e Nova Iorque duas. O somatório no país revela duas ondas até agora.

3. Estatísticas do Brasil

Nos últimos meses, o Brasil ocupou a segunda posição no número total de óbitos entre todos os países, sendo superado apenas pelos Estados Unidos. Entretanto, a sua taxa de mortalidade de 1.089 por milhão de habitantes é a 26ª do ranking mundial. O Brasil, com cerca de 9,0 milhões de recuperados e de 842 mil casos ativos, testou apenas 13,4% de sua população para a COVID-19 até 19 de fevereiro de 2021, ficando na 117ª posição no ranking mundial. A título de comparação, os Estados Unidos testaram quase toda população. A taxa de letalidade do Brasil nesta data foi de 2,42% bem próxima da letalidade global de 2,21%, mas sua taxa de mortalidade é 3,62 vezes maior do que a taxa média de mortalidade mundial. Persistimos na primeira onda até hoje com uma menor média móvel de 14 dias (após 15 de junho) registrada em 9 de novembro (18.940 casos).

O Brasil é um país intercontinental e seus Estados apresentam grande desigualdade de renda e de IDH, condições climáticas distintas e níveis de pobreza alarmantes em algumas áreas. Assim, as estatísticas da COVID-19 diferem bastante entre as regiões e os Estados da federação. O Centro-Oeste apresenta a maior taxa de incidência da COVID-19, próxima a 6,6 casos confirmados por cem habitantes. As regiões Norte e Sul apresentam taxas de incidência próximas a 6,0. A taxa de mortalidade do Norte é 1.398 óbitos por milhão de habitantes (a maior do país), enquanto a do Sul é 988 (a menor).

As cinco maiores taxas de mortalidade da COVID-19 entre os Estados do País são: Amazonas (2.482), Rio de Janeiro (1.856), Mato Grosso (1.578), Distrito Federal (1.571) e Espírito Santo (1.557), todas superior àquela do Peru (1.338) – país com maior taxa de mortalidade da América do Sul. Por outro lado, Maranhão (692), Bahia (739), Minas Gerais (824), Alagoas (870) e Santa Catarina (962) são os Estados brasileiros com menores taxas de mortalidade. Um ponto inusitado é que o Maranhão é o estado de menor taxa de mortalidade apesar de liderar a proporção de pessoas extremamente pobres. Uma pesquisa importante será determinar as variáveis independentes que explicam a variabilidade das taxas de mortalidade nos estados brasileiros.

4. Conclusões

Infelizmente, esta pandemia persistirá no Brasil pelo menos nos próximos 30 meses por conta das novas variantes do vírus e da lentidão da vacinação, entre outros fatores. As projeções correntes2 apontam um intervalo de 299 mil a 349 mil óbitos pela COVID-19 no nosso país em 31 de maio de 2021.

Referências:

  1. Marinho PRD, Cordeiro GM, Coelho HFC, Brandão SCS. Covid-19 in Brazil: A sad scenario. Cytokine and Growth Factor Reviews, https://doi.org/10.1016/j.cytogfr.2020.10.010

  2. Worldometers. COVID-19 Coronavirus Pandemic. Disponível em: https://www.worldometers.info/coronavirus/#countries (acessado em 19/02/2021).

  3. McCandless, D. Information is beautiful. Disponível em: https://informationisbeautiful.net/visualizations/covid-19-coronavirus-infographic-datapack/ (acessado em 19/02/21).

  4. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Painel Coronavírus. Brasília: MS; 2020. https://covid.saude.gov.br/ (acessado em 19/02/2021).

  5. Ribeiro, T. F. Essays on the Unit Burr XII distribution: Regression and Time Series Models. Dissertação de Mestrado, Departamento de Estatística, UFPE (2020).