IREMOS VOLTAR A UM NORMAL?

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 Marcelo Carneiro Leão (Reitor da UFRPE, APC cadeira #68)

 

Em 16 de março, o Consórcio Universitas (Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE – UFPE, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade de Pernambuco – UPE, Universidade Federal do Agreste – UFAPE, Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF e Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP), junto com os dois Institutos Federais (Instituto Federal de Pernambuco e o Instituto Federal do Sertão de Pernambuco), suspendeu as atividades acadêmicas, por conta da Pandemia da COVID-19.

A partir desta data, todos os esforços realizados pela UFRPE e demais instituições, foram no sentido de garantir minimamente que as atividades de ensino, pesquisa e extensão. A UFRPE, consciente de seu relevante papel na sociedade, vem pautando suas ações, neste momento de pandemia da Covid-19, respeitando a saúde e o bem-estar físico e emocional da comunidade universitária. Inicialmente, em março de 2020, aulas e atividades não essenciais foram suspensas, e medidas necessárias foram tomadas, em consonância com a orientação das autoridades sanitárias internacionais, nacionais, estaduais e municipais, para garantir a segurança das pessoas de nossa Universidade – estudantes, técnico(a)s, docentes e terceirizado(a)s – bem como o funcionamento das atividades essenciais e emergenciais.

Uma primeira versão do Plano de Funcionamento foi produzida de maneira participativa, com consulta pública, sendo aprovada, por unanimidade, pelos Conselhos Superiores e publicada em julho de 2020. No documento, destacavam-se orientações para a implementação do Período Letivo Excepcional (PLE), iniciado em agosto de 2020, além de instruções para a realização dos serviços de maneira remota, e excepcionalmente, de modo híbrido pelos servidores e servidoras, respeitando as normas das autoridades sanitárias e administrativas.

Mesmo num período tão difícil – de perdas de inúmeras pessoas estimadas da nossa comunidade, do nosso convívio e de referências, no País e no mundo – a UFRPE conseguiu não apenas manter seu funcionamento e superar obstáculos, como também alcançar objetivos, inovar, promover inclusão e acumular realizações. Entre elas, ações emergenciais para formação e apoio para ensino, pesquisa e extensão; iniciativas de enfrentamento, monitoramento e desenvolvimento científico referentes à Covid-19; obras, reparos e melhorias de infraestrutura; criação e reformulação de órgãos, institutos; e renovação dos espaços, estruturas e mecanismos de gestão. Um dos exemplos destas ações foi o Auxílio Digital Emergencial, que disponibilizou um valor de R$ 1.380,00 para os estudantes de vulnerabilidade sócio-econômica, pudessem adquirir equipamentos de informática, e tivessem as mínimas condições de participar dos Períodos Letivos Excepcionais (PLE), propostos pela UFRPE.

Destaca-se também que a situação da pandemia continua sendo monitorada, sistematicamente, pelo Comitê de Prevenção ao Coronavírus, para garantir que as medidas adotadas pela Instituição sejam adequadas e ágeis, visando à saúde e ao bem-estar da comunidade, bem como ao funcionamento das atividades institucionais.

Entretanto, precisamos ampliar nossas reflexões para além das mudanças acontecidas no âmbito universitário. É urgente que analisemos nossa sociedade antes e depois desta Pandemia da COVID 19.

Que normal (ou novo normal) queremos para o pós-pandemia? Um normal, em que ricos ficam cada vez mais ricos, e pobres cada vez mais pobres?

Como no Brasil, onde a matriz tributária se concentra fortemente no consumo, e não na renda e na propriedade. Onde eu, você, o gari, o médico, o banqueiro, o professor, o empresário, enfim todos que ao comprarmos um quilo de feijão, pagamos o mesmo valor de imposto. Onde a taxa de retorno em serviços a sociedade, em especial aos mais vulneráveis, é muito baixa. Uma normalidade de um sistema de tributação regressiva, onde sobre os mais pobres incidem uma tributação proporcionalmente maior que a dos mais ricos.

O normal da meritocracia hipócrita? Onde as pessoas têm pontos de partidas distintos, em relação a educação, saúde, transporte, alimentação, segurança e moradia. O “mérito” de quem por exemplo, estudou em uma boa escola, teve bons médicos, uma moradia confortável, entre outras condições adequadas, e que logrou “êxito”, concorrendo com alguém que não teve nenhuma destas condições citadas anteriormente, e que ficará fadado ao “fracasso”.

A normalidade da descrença da ciência? Onde o conhecimento é relevado a planos inferiores, em detrimento da superficialidade, do silêncio oportunista e cômodo, até talvez de uma “pós-mentira”. A normalidade da ignorância, ou no máximo do conhecimento para poucos. Onde a argumentação fundamentada é pouco valorizada.

Aquele normal onde o planeta aquece, por conta das agressões a suas florestas e mares? Onde fenômenos meteorológicos mais inesperados acontecem em todos os cantos do mundo. Onde novos vírus e bactérias encontram terreno fértil para surgirem e causar pandemias como esta da COVID-19.

Não amigas e amigos, voltar a este normal, é sentir o joelho desta normalidade sufocando nossos pescoços, e nos asfixiando até a morte como um cidadão imobilizado. Quero um novo normal, onde possamos viver e respirar a liberdade, a solidariedade, o respeito as diferenças, e a justiça social.