A UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO NO COMBATE A PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS

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Pedro Henrique de Barros Falcão (Reitor da UPE, Convidado da APC)*

É inegável que a humanidade sairá diferente depois de passar por eses tempos sombrios. Os esforços mundiais para combater a pandemia do novo Coronavírus levaram as sociedades à exaustão. Não cabe apenas pensar no horizonte de expectativas de um mundo pós pandemia, mas refletir a importância de instituições, historicamente sólidas e permanentes, que sempre agiram como “prevenção” a grandes catástrofes humanitárias.

 O físico Agustín Mallo estava certo ao afirmar que sempre houve uma desconexão entre a Universidade, a ciência e os cidadãos. A forma de como construímos ciência, por meio de pesquisa de alto nível, sempre pareceu tão complexa que grande parte da sociedade civil sempre a considerou como pouco relevante para suas vidas. Carl Sagan, astrofísico, apontou a nossa dependência quase que absoluta de ciência e tecnologia. Contudo, acabamos por construir uma forma de que as pessoas se sentissem incapazes de entender de ciência e não tivessem acesso a tecnologia. Sem dúvida, estas questões foram indícios evidentes de um desastre. A ciência e todo e qualquer tipo de conhecimento científico são formas de pensarmos alternativas para a construção de um mundo mais justo e inclusivo. O papel das Universidades nesta questão é central. Quando tratamos do combate a pandemia e da importância do desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, não estamos apenas apontando para a importância de métodos eficazes para o retorno a algum tipo de “normalidade”, mas falamos de que a prevenção é e sempre será o melhor caminho para reduzir os danos irreparáveis de crises mundiais.

Aqui, queremos afirmar de que as Universidades não agiram apenas com ações emergenciais pensadas única e exclusivamente em tempos de crise, mas com ações estruturadas e permanente que são vivenciadas pela população brasileira, e em nosso caso, pernambucana, no dia a dia muito antes da pandemia e que é necessário que a população tenha conhecimento.

A Universidade de Pernambuco, sem seus quase 30 anos, trabalha cotidianamente na ação primária, rotineira de prevenção. Programas como o de exercícios físicos supervisionados para diabéticos, Doce Vida, da Escola de Educação Física (ESEF), na região metropolitana do Recife, o programa Resgatando Sorrisos da Faculdade de Odontologia de Pernambuco (FOP) com milhares de atendimentos já realizados em diversas regiões do Estado, os mais de 200 (duzentos) atendimentos semanais na Faculdade de Odontologia no Sertão de Arcoverde ou mesmo a assistência jurídica proporcionando acesso a justiça no Sertão do Estado e na Capital. A Faculdade Aberta da Terceira Idade – FATI em parceria com a autarquia de Petrolina (FACAPE) oferece regularmente aulas em diversas áreas do conhecimento para pessoas acima dos 50 anos. Informações sobre alimentação saudável, programas de fisioterapia e até mesmo debates com temas específicos são parte rotineira deste programa, além do ATIVIDOSO, programa de atividades físicas com supervisão de profissionais da fisioterapia. Estes foram só alguns exemplos de um amplo universo de atividades permanentes que a UPE oferta a sociedade em todas as regiões do Estado. O que estamos dizendo é que todos estes cuidados a vida nunca foram, na Universidade de Pernambuco ações emergenciais, mas de permanente preocupação com a sociedade.

Claro está que ciência, tecnologia e inovação sempre foram os caminhos trilhados na Universidade e serão por eles, este novo novelo, que conseguiremos sair desse labirinto. Por meio de ações rápidas e em parceria com o Governo do Estado, ampliamos a equipe de enfermagem do Hospital Oswaldo Cruz e fizemos seleção simplificada para mais de 670 profissionais de saúde para reforçar a equipe do Complexo Hospitalar, produzimos grande quantidade de álcool 70% numa colaboração entre a Escola Politécnica (POLI) e o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) para auxiliar na higienização do nosso Complexo Hospitalar, e o mesmo fizemos no Multicampi de Garanhuns. Esta produção foi toda destinada ao Procape, Cisam e Huoc, Corpo de Bombeiros, SAMU, IML, IC, UPAS, PSFs, Sistema penitenciários, casas de idosos, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal, Guardas Municipais, Prefeitura do Recife, Região Metropolitana e Região Agreste Meridional do Estado. Ofertamos à população de Garanhuns atendimento psicológico gratuito por meio do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental, em parceria com a Prefeitura local. Visando diminuir os impactos da pandemia a UPE foi uma das vencedoras do Desafio COVID-19 desenvolvendo o projeto “Anjo Amigo” que consiste numa rede colaborativa gratuita de apoio a idosos (60+) que estão em isolamento social devido à pandemia. A rede é formada por médicos, psicólogos, enfermeiros, profissionais de saúde, empreendedores, profissionais liberais e voluntários. Liderados por pesquisadores da Escola Politécnica, da área de Engenharia da Computação, mais de 30 profissionais voluntários, de diversas áreas de conhecimento e instituições públicas de Pernambuco, construíram um dispositivo para monitorar sinais biológicos necessários para a triagem e acompanhamento de pacientes portadores do Covid-19. Outra inovação de destaque foi fruto da parceria da UPE com a UFPE e a UFRN e o Instituto Curie para analisar os índices de isolamento social em Pernambuco e em específico na Região Metropolitana do Recife por meio da utilização de dados do Google e da In Loco. Transformamos máscaras de proteção facial, conhecidas como face shields, em um processo industrializado para produção em maior escala com pareceria da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) e várias empresas do setor privado, além de voluntários da rede Hardware de Pernambuco. Nosso Complexo Hospitalar, composto pelo Hospital Oswaldo Cruz (HUOC), PROCAPE (Pronto socorro Cardiológico) e CISAM (Maternidade) que anualmente atendem a milhões de pernambucanos(as) tiveram seus esforços voltados para o enfrentamento da pandemia da COVID-19. Muitos leitos foram abertos especificamente para atendimento de pacientes infectados pelo vírus e todos os profissionais de saúde e administrativo do complexo de hospitais se dedicaram a atender de forma humana e qualificada a sociedade em meio a maior catástrofe mundial do novo século.

A Universidade de Pernambuco reconhece seu papel também no combate ao negacionismo, outro vírus letal para a sociedade, e a disseminação de Fake News. Junto com sua comunidade acadêmica a Universidade produziu e veiculou quase 150 materiais audiovisuais e mais de 60 podcasts com o intuito de difundir informações e saberes de interesse público, informando a população sobre assuntos relevantes no enfrentamento a crise provocada pela pandemia.

Este pequeno relato do que a Universidade de Pernambuco fez e continua a fazer pelos Pernambucanos (as) do nosso Estado demonstram o que a ciência é capaz de fazer, mesmo trabalhando com meios cada vez mais escassos e com uma grande indiferença social. Há uma dificuldade permanente tanto na política quanto em parcela da sociedade em perceber que os investimentos de médio e longo prazo são mais sentidos em tempos de crises. A Universidade é uma das instituições mais sólidas que o mundo moderno já viu. São poucas ou quase nulas as chances de encontramos alguma empresa privada tão antiga quanto as Universidades. Isto prova que são instituições permanentes e que pensam o mundo para além do imediato ou da curta duração. Nosso planejamento é pensar o mundo com um horizonte de expectativas longas. Nossa formação é voltada para um indivíduo capaz de lidar com as mais diversas realidades. A ciência tem feito um esforço brutal, mesmo a margem do interesse público e dos cortes orçamentários. Só podemos dizer que apesar de tudo, a Universidade respondeu. A um custo alto, mas respondeu. Muitos profissionais de saúde e da educação estiveram e estão à disposição da sociedade de forma mais preparada e atentos as demandas urgentes do mundo de hoje. Apoiar as Universidades e a ciência é um investimento estratégico e inteligente, contra um discurso empobrecido e que adoece o País tanto quanto a letalidade de um vírus. Graças a ciências chegamos até aqui. Que sigamos com ela. 

*Pedro Henrique de Barros Falcão, Reitor da Universidade de Pernambuco, Vice-presidente da ABRUEM e Coordenador do consórcio Pernambuco Universitas