AÇÕES DO IFPE EM MEIO À PANDEMIA DA COVID-19 REFORÇAM VALORES E MISSÃO DA INSTITUIÇÃO

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José Carlos de Sá Júnior(Reitor do IFPE, Convidado da APC)*

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) é uma instituição pública e gratuita de Educação Técnica, Científica e Tecnológica, criada pela Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Vincula-se ao Ministério da Educação (MEC) por meio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e tem uma estrutura pluricurricular e multicampi. Atua na oferta de educação profissional e tecnológica nos seus diferentes níveis e modalidades de ensino, além de desenvolver pesquisas básica e aplicada, inovação tecnológica e atividades de extensão, contribuindo para o desenvolvimento de novos processos, produtos e serviços, em articulação com os setores produtivos da sociedade pernambucana. Composto por 16 campi e 11 polos de Educação a Distância, distribuídos por diversas regiões do Estado, o IFPE atende a mais de 27 mil estudantes, por meio da oferta de cursos que vão desde o nível técnico profissional até a pós-graduação. 

Neste contexto de pandemia da Covid-19, de constante ameaça à saúde e à vida humanas, as atividades administrativas e acadêmicas do IFPE vêm acontecendo prioritariamente de maneira remota, desde a segunda quinzena de março de 2020. Durante todo esse período, no entanto, o IFPE buscou criar mecanismos visando diminuir o impacto social da suspensão das atividades presenciais para as comunidades em que atua. Foram várias as ações realizadas.  Instituiu o Comitê Emergencial e as Comissões Locais de Enfrentamento do Coronavírus, produziu e aplicou questionários destinados aos servidores, aos estudantes e aos terceirizados, de modo a realizar um monitoramento, elaborou e aprovou o seu Plano de Contingência, vem efetuando publicações, por meio do sítio eletrônico e das redes sociais institucionais, e realizando lives com informações e orientações sobre assuntos relevantes neste contexto de crise provocada pela pandemia. 

A pesquisa e a extensão − que nunca foram suspensas − ofereceram à comunidade a possibilidade de continuar com a vivência acadêmica, mesmo que de maneira remota. Nos primeiros meses da pandemia, foram oferecidas mais de três mil vagas em cursos de extensão, em uma ação conjunta com a Diretoria da Educação a Distância. Tendo em vista a heterogeneidade peculiar ao Instituto, os temas ofertados nestes cursos foram bastante variados, a exemplo de “Elaboração de artigos científicos”, “Energia Solar Fotovoltaica: Fundamentos e Aplicações”, “Professores do (no) quilombo: tessituras da identidade docente e da diferença” e “Reeducação Financeira”, afora aqueles voltados ao cuidado com a saúde mental, como “Psicologia e comportamento humano: emoções em tempos de Covid-19”.

A experiência acabou resultando na produção de diversos eventos on-line por parte do corpo docente e administrativo do IFPE. Entre outros, foram realizados o “I Congresso Nacional de Alimentos e Agropecuária”, a “II Semana Integrada de Enfermagem”, o ciclo de debates “#Ficaremcasa com a extensão”, a edição 2020 do “Abril Indígena”, com o tema “Os impactos da pandemia entre os povos indígenas” e a “I Semana Acadêmica”, que integrou as áreas de Pesquisa, Ensino e Extensão. 

Entre os esforços para diminuição do impacto social da pandemia nas comunidades onde o IFPE atua, destacam-se também estratégias administrativas, como a criação do auxílio financeiro emergencial por meio dos editais de Benefício Eventual, a manutenção do repasse de outros auxílios, a exemplo do Bolsa Permanência, e a distribuição de 43.647 kits de gêneros alimentícios para famílias de estudantes em situação de vulnerabilidade social. Os produtos foram adquiridos por meio do Programa Nacional de Alimentar Escolar (PNAE) e repassados para os discentes.  Além disto, o IFPE direcionou profissionais e estrutura técnico-científica para o combate direto à pandemia, ciente de que, muito além de educar, a sua missão é transformar vidas. 

Neste sentido, somando a atuação dos 16 campi e da Diretoria de Educação a Distância, foram realizados mais de 535 atendimentos psicológicos para discentes e servidores, além da doação de 184.402 itens de EPI, 2.867 kits de higiene, 638 litros de álcool 70%, 3.470 litros de água destilada e 1.345 protetores faciais. 

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Muitos desses produtos foram produzidos internamente pelos profissionais e estudantes do IFPE. O Campus Ipojuca, por exemplo, desenvolveu o Projeto Social de Ajuda Comunitária e Acadêmica (PROSACA) para enfrentamento da Covid-19. Esse projeto focou em dois aspectos: a doação dos kits de higienização e a orientação à comunidade sobre o correto uso dos produtos e sobre informações relevantes a respeito da doença. A equipe de trabalho é formada por docentes dos cursos de Química, Petroquímica e Licenciatura em Química, além de servidores técnico-administrativos das áreas de Ensino e de Comunicação. A ação produziu 4.300 litros de materiais de limpeza de mãos e superfícies, que beneficiaram mais de 1.600 famílias.  O projeto ainda treinou os envolvidos − e, em uma etapa posterior, discentes −, para serem propagadores destas ações em suas comunidades e, assim, multiplicadores de conhecimento.

No caso do Campus Pesqueira, além da doação das máscaras produzidas pela impressora 3D da unidade, servidores promoveram um treinamento sobre o uso correto de EPIs para os profissionais que fazem a higienização dos ambientes públicos na cidade. Um grupo de docentes também realizou capacitação sobre o uso de máscaras laríngeas para enfermeiros do hospital, da UPA e do SAMU de Pesqueira, considerando que a máscara laríngea é um equipamento utilizado em substituição à intubação, permitindo que o paciente respire melhor. A compra dos dispositivos pelo município de Pesqueira foi feita por indicação de professores de enfermagem do IFPE, Ana Carla Alexandre e Nelson Galindo. Afora isto, o campus também integra o Comitê de Respostas Rápidas ao Coronavírus (CRRC), criado pela Prefeitura de Pesqueira, com o objetivo de traçar estratégias de prevenção e combate à doença no município. Entre as atividades desenvolvidas pelos professores do campus, destacam-se o treinamento de profissionais de saúde e o assessoramento na montagem dos leitos de isolamento para a Covid-19.

Já o Campus Abreu e Lima iniciou pesquisa inovadora no enfrentamento a essa doença. O projeto intitulado “Desenvolvimento de protocolos para reuso seguro de respiradores N95 e alternativa inovadora a partir de filtros químicos na proteção respiratória dos profissionais de saúde expostos à Covid-19” foi um dos 90 aprovados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e pelo Ministério da Saúde para receber financiamento, por meio de chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O estudo vai testar o reuso seguro de respiradores N95 e a utilização de filtros químicos, visando à proteção respiratória de profissionais que estão em contato direto com pacientes vítimas do novo Coronavírus.  Esta pesquisa é coordenada pelo professor Dr. Daniel Paiva, do Campus Abreu e Lima, em parceria com o professor Dr. Elvis França, do Centro Regional de Ciências Nucleares do Nordeste (CRCN-NE) e da Dra. Giselda Neves, Enfermeira do Hospital da Restauração de Pernambuco. Dentre os principais resultados esperados, estão a implementação de metodologias de descontaminação, protocolos para reuso seguro de respiradores e o oferecimento de alternativa para proteção respiratória contra agentes biológicos a partir de filtros químicos.

Equipamento de proteção individual (EPI) utilizado principalmente por profissionais da saúde e de apoio que estão na linha de frente no combate à Covid-19, os respiradores N95 têm um tempo de uso que varia conforme as indicações do fabricante. O reuso desses respiradores, quando ocorre, deve obedecer às recomendações e aos protocolos definidos pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) de cada instituição. Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) só recomenda o reuso se for pelo mesmo profissional e em casos excepcionais, observando-se danos na estrutura e no estado do filtro. 

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Ainda na Região Metropolitana, uma equipe formada por professores e estudantes do curso de Engenharia Mecânica do Campus Recife, dedicou-se à produção de máscaras de proteção facial que foram doadas a unidades de saúde do Estado para uso por profissionais da área. Os equipamentos do tipo Face Shield foram distribuídos entre hospitais da rede pública e Unidades de Pronto Atendimento (UPA). 

O projeto foi conduzido pelos docentes Héber Silva, Ângelo Costa, Frederico Duarte e Jacek Stanislaw, além dos estudantes Fernanda Oliveira, Edilson Silva e Mineu Nascimento. O grupo, que contava com três impressoras 3D, conseguiu, por meio de arrecadação on-line, recursos para a compra de mais uma impressora e para a aquisição de insumos necessários à criação da armação, da viseira, além de elásticos e sacos para embalagem higienizada. Uma das duas impressoras emprestadas ao grupo veio do Instituto IDV, que auxilia projetos de extensão com impacto social. Além da entidade, a ONG Enable, responsável por criar próteses para pessoas com necessidades específicas, doou rolos de filamento (matéria-prima para a máscara). Foi de um modelo do equipamento de proteção facial disponibilizado no site da organização que o grupo se inspirou para sua produção. Por meio do projeto, já foram beneficiados o Hospital da Restauração, o Hospital da Polícia Militar, o Hospital Municipal Aristeu Chaves de Camaragibe, a Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Capibaribe, a Unidade de Saúde da Família II do bairro de Santo Amaro e a UPA Dra. Zilda Arns, do Ibura. 

Para incentivar a lavagem das mãos, o Campus Caruaru realizou uma ação original: produziu e doou uma cabine higiênica para a comunidade do Alto do Moura. A estrutura possui uma pia e dispensers de sabonete líquido e papel toalha, além das instruções para higienização correta das mãos. A entrega foi realizada no dia 18 de junho de 2020, na Associação dos Artesãos em Barro e Moradores do Alto do Moura (ABMAM). O presidente da ABMAM, Helton Rodrigues, recebeu a cabine e ficou a cargo da Associação observar o melhor lugar, dentro da comunidade, para instalar a estrutura. Segundo Rodrigues, a cabine ficou em uma das padarias do bairro. A proposta é produzir cópias da estrutura, disponibilizar algumas para a comunidade externa e dar condições de saúde e segurança à comunidade, inclusive para viabilizar o retorno às atividades presenciais. 

A produção e/ou a doação de EPIs e de materiais sanitizantes foram realizadas por outros campi do IFPE, como Afogados da Ingazeira, Barreiros, Belo Jardim, Garanhuns, Igarassu, Palmares e Vitória de Santo Antão. Campanhas em prol da arrecadação de doações para instituições no entorno foram realizadas, por exemplo, pelos campi Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes. No caso do Campus Olinda, destaca-se a criação da campanha “Arte por Solidariedade”, que beneficiou 100 famílias da comunidade de pescadores da Ilha do Maruim. Ressalta-se a participação de docentes do Campus Paulista em projetos de extensão externos. 

Todas estas ações aconteceram em paralelo aos esforços para inclusão do corpo discente dos 16 campi no processo do ensino remoto, que caminhava pouco a pouco para a modalidade híbrida, com aulas remotas e presenciais. Nesta perspectiva, foram distribuídos tablets e chips para acesso à internet como forma de apoio à inclusão digital, possibilitando a realização das atividades acadêmicas, uma vez que o público estudantil do IFPE é bastante heterogêneo, e apresenta diferentes condições de acesso regular à internet e a recursos tecnológicos. 53,49% dos discentes, por exemplo, encontram-se em situação de vulnerabilidade social. 

Com este viés, os editais do processo de ingresso 2021.1 representaram a superação de uma das maiores dificuldades impostas pela condição de isolamento social: como garantir a preservação do caráter democrático e inclusivo dos vestibulares do IFPE em um processo on-line? Um passo importante nesta direção foi a extinção da taxa de inscrição, além da possibilidade de escolha entre duas opções de avaliação para os interessados nos cursos superiores. Como resultado, 34.153 candidatos se inscreveram para disputar as 4.942 vagas ofertadas nos 97 cursos técnicos e superiores.

Na atual fase da pandemia, o IFPE permanece com o desafio de seguir oferecendo suporte às comunidades em que atua, considerando as suas necessidades e particularidades, sem perder de vista as atividades de ensino, pesquisa e extensão, adaptadas ao novo contexto social. Para isto, os servidores prosseguem trabalhando em diversas frentes. 

Embora com dificuldades orçamentárias, além das tantas outras oriundas da pandemia, o IFPE não abre mão de seu compromisso com a ciência, a justiça social, a democratização do conhecimento, a cidadania, a ética, o respeito à diversidade, a preservação do meio ambiente, a transparência e a gestão democrática. E assim, o Instituto Federal de Pernambuco segue em defesa do cuidado com a saúde, a vida e a coisa pública, buscando estar integrado com as comunidades interna e externa, ainda que em um período de distanciamento social.

*José Carlos de Sá Junior, Reitor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE).