O CENÁRIO ATUAL E PERSPECTIVAS DA AGRICULTURA PERNAMBUCANA

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José Geraldo Eugênio de França (Convidado da APC)*

A situação atual

Vamos lembrar que no século XVI e primeira metade do século XVII Pernambuco foi a mais importante província da Colônia. A cana-de-açúcar introduzida ao redor de 1520, fez do Estado uma das jóias da coroa, cobiçado por outras potências, a exemplo da França e da Holanda e um dos principais produtores de açúcar em todo o mundo. Portanto, Pernambuco conta com uma economia agrícola em sua formação.

Mesmo nos dias atuais, onde o agronegócio não representa mais do que 15% da economia do Estado, a importância da agropecuária se faz notar em algumas áreas marcantes: 1. Segurança alimentar; 2. Empregabilidade; 3. Comércio exterior; 4. Capilaridade; 5. Interiorização do desenvolvimento; 6. Sustentabilidade ambiental.

Segurança alimentar

Apesar das contradições dos dados e estudos apresentados, a agricultura familiar e o pequeno produtor rural constituem em sustentáculos do abastecimento de alimentos, particularmente nas comunidades interioranas e cidades de pequeno e médio porte. A feira continua sendo o principal local de abastecimento, o mais econômico e de produtos mais saudáveis. Apesar da importância dos supermercados e atacadistas, é na feira semanal em que a maior fração de alimentos é adquirida, em particular quando se trata de hortaliças, frutas, carnes e cereais não processados. Vale esclarecer que desde o fortalecimento do programa bolsa família, ainda em 2002, até os dias atuais com o auxílio emergencial como mitigador de parte dos efeitos nocivos da Covid-19, o pequeno agricultor e o pequeno e médio comerciante são os principais beneficiários das transações com os subsídios repassados à população pelos programas sociais.

O que mudou com a Covid-19

A menor mobilidade, causada pelo surgimento da doença e recomendada pelas mais diversas instituições do Brasil e do exterior, entre março de 2020 e janeiro de 2021, teve pouco impacto no meio rural e no abastecimento das famílias. Somente nos últimos dois meses, com uma maior restrição a aglomerações, a redução de horário nos mercados livres e feiras e a recomendação por um mais rígido distanciamento social as consequências da Covid-19 começam a ser sentidas de forma mais intensa no campo. A redução do auxílio emergencial, de 600 para 300 reais, o arrefecimento da atividade econômica em todo o País, a expansão da pandemia nas comunidades rurais, os óbitos, em particular na faixa etária mais avançada, juntando-se a cautela, a precaução, o medo se fazem sentir no campo à exceção de alguns bolsões que ainda não foram fortemente afetadas a exemplo da produção frutícola no São Francisco, que não depende diretamente do mercado local.

Tecnologias emergentes

Por outro lado, há de se considerar que este momento trouxe alguns sinais positivos. Uma aceleração do uso de tecnologias digitais com implicações diretas na transferência de tecnologia e extensão rural, nas transações comerciais de vendas e compras online, na otimização das operações bancárias e, principalmente, no uso mais adequado do celular e do computador, particularmente, o notebook. A comunicação das comunidades rurais e o acesso à informação foram reforçados e sinais de esperança deste movimento promover uma melhor capacidade interação e conhecimento são efetivos. 

Ressalte-se que há de se registrar que as instituições públicas diretamente ligadas à agricultura não têm, aparentemente, acompanhado esta “onda” merecendo uma atenção especial em investimento na infraestrutura computacional e de comunicação. De modo que qualquer técnico, onde quer que esteja possa atender o produtor de modo efetivo e agilizar as atividades de extensão e assistência técnica. Vale lembrar que devido ao fato de que o diálogo entre o governo federal e os governos estaduais está comprometido a níveis nunca observados, caberá ao governo estadual a responsabilidade por preservar, fortalecer e, ao mesmo tempo, usar da melhor forma possível essa rede de bases e escritórios que dialogam diretamente com o produtor e o mundo rural.

A aposta na capacitação técnica dos produtores e formação dos técnicos

Note-se que com a valorização da educação à distância, torna-se imperativo que as instituições públicas e as empresas privadas de assistência técnica, extensão rural e educação adotem programas de capacitação, reciclagem e atualização de seus técnicos de modo que o melhor e mais eficiente em termos tecnológicos possa resultar em uma atividade agrícola sustentável, produtiva e, fundamentalmente lucrativa. Há uma mensagem que não tem sido transmitida de modo efetivo, afinal, cada propriedade rural de Pernambuco, independente do tamanho ou da atividade é uma unidade de negócio e, portanto, deve ser considerada como tal. O produtor deve ser considerado um empresário e, em momento algum confundido com um ente alvo de programas sociais ou um dependente de renegociações de suas dívidas.

E o futuro?

Não é que se deva ser otimista às escuras, mas com esta quantidade de imóveis rurais que excedem 220 mil, com os produtores e com um esforço de sistematização dos trabalhos das Universidades, escolas técnicas, empresas privadas e públicas de assistência técnica, prestadores de serviços laboratoriais e de consultoria Pernambuco pode avançar em suas atividades agropecuárias de modo significativo na próxima década, tomando algumas iniciativas que serão expostas a seguir:

1. Consolidar as cadeias produtivas maduras. Neste caso há de se considerar que quatro setores representam mais de 80% do valor de produção da agropecuária em Pernambuco, a saber: fruticultura irrigada; sucroenergia; avicultura e pecuária de leite.

2. Implementar de forma efetiva uma política de preservação ambiental e recuperação de biomas ameaçados. O desmatamento da Caatinga continua intenso, bem como dos resquícios de Mata Atlântica e Brejos de Altitude. Apesar de a preservação ambiental ser constitucionalmente uma atividade a ser liderada pelo executivo federal, há de se convir que no momento, caso os governos estaduais e municipais não adotarem políticas próprias, pouco se fará para se contar a redução da cobertura florestal no Estado. Chamando-se a atenção para o fato de que com as áreas de preservação e recuperação florestal que se chame a atenção para a necessidade de reflorestamento, seja com espécies nativas ou exóticas.

 3. Apoiar arranjos produtivos em desenvolvimento, destacando-se a produção frutícola no vale do Moxotó; a apicultura no Agreste e Sertão; a aquicultura de águas interioranas com espécies adaptadas a água com elevado teor de sal, a exemplo de tilápia e camarão de água salgada e atividades correlatas utilizando-se das águas do Rio São Francisco; produção de grãos, diga-se milho e sorgo, de modo a atender parte da demanda estadual de amido para fins alimentares e de ração.

4. Promover investimentos em infraestrutura rodoviária e ferroviária. Não é o caso da agricultura de base familiar, entretendo considerando-se cadeias produtivas como a da avicultura e da fruticultura, a conclusão da Ferrovia Transnordestina até o Porto de Suape será fundamental e estratégica para a avicultura; produção florestal e segurança alimentar da população estadual. Outra questão não menos relevante diz respeito a manutenção da malha viária. O deslocamento da fruticultura aos portos tem se constituído em um dos fatores limitantes para sua expansão.

5. Fortalecimento institucional – Sem que o estado de Pernambuco possa contar com sua entidade de assistência técnica e extensão rural funcionando a contento dificilmente a consolidação de cadeias em ascensão ou a busca por novas oportunidades de negócios poderá ser alcançada. Urge-se que as atividades de suporte ao produtor não sejam agendas isoladas de nenhuma instituição ou empresa individuais, mas uma estrutura de rede que possa ser gerida por um dos membros efetivos do consórcio a ser formado pelas Universidades locais; instituições públicas e privadas de assistência técnica e extensão rural; bancos; produtores e suas associações; representantes do comércio atacadista e varejista, munícios ou arranjos intermunicipais; de tal de modo que haja complementariedade entre as ações e não uma competição autofágica e com pouco ou nenhum resultado efetivo.

6. Valorizar o papel da ciência, tecnologia e inovação – Pernambuco conta com cursos das áreas agrárias, ofertados pela UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco desde 1912; com uma instituição de Pesquisa e Extensão Rural fundada em 1935, o IPA – Instituto Agronômico de Pernambuco; com um conjunto de Campi da UFRPE, UFPE, UPE, UFAPE, IFES PE e IFES Sertão em dezenas de municípios, uma rede de escolas técnicas estaduais; dezenas de escolas e faculdades privadas ou sem fins lucrativos; com um número de entidades que promovem o fomento técnico científico e de inovação a exemplo da FACEPE, da AD DIPER, do Sebrae PE; com entidades de classe tais como a FAEPE e a FETAPE; com agentes de crédito como o BNB, o BB e a banca privada; com centros de pesquisa de elevado nível a exemplo da Embrapa Semiárido e da Embrapa Solos; com entidades como a APC – Academia Pernambucana de Ciência e APCA – Academia Pernambucana de Ciências Agronômicas, a ABCA – Academia Brasileira de Ciências Agronômicas e de Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural; além de centenas de empresários e produtores que vivem da produção ou de alguma atividade relacionada à agropecuária. Logo, o Estado conta com instrumentos essenciais e necessários a avançar e mudar a face da agricultura nas próximas décadas.