O UNIVERSO

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Valter da Rosa Borges (APC, cadeira #1)


Podemos definir o universo como o conjunto macrocósmico da realidade física, constituído de galáxias, estrelas, planetas, satélites e asteroides. Não sabemos se o universo é eterno e infinito, eterno e finito ou se já existiu anteriormente um outro universo e que foi destruído, tendo sido substituído pelo atual.

 Se o universo é eterno, o mesmo não ocorre com as galáxias, estrelas, planetas, satélites e asteroides que são criados e destruídos periodicamente.

Se ele foi criado, quando o foi? Platão e Agostinho afirmavam que o mundo não foi criado no tempo, mas com o tempo. O mundo, portanto, não existia antes do tempo e nem tempo houve antes da criação do mundo.

A Escola Sânquia e o Budismo ensinam que o universo é criado, destruído e recriado periodicamente. E o Tantrismo assegura que a criação é contínua e, assim, criação e destruição não dizem respeito ao Universo inteiro, mas a cada um dos universos em particular.

Modernamente, Thomas Gold e Hermann Bondi defenderam a hipótese da criação contínua, postulando a existência de um universo estacionário, sem começo nem fim. Alega-se que esta explicação não é satisfatória, pois a matéria é criada no tempo de um universo total para preencher os espaços gerados pela expansão do universo, a fim de manter a densidade média da matéria no universo.

É o universo finito ou infinito? Se o universo é finito e está em expansão, até onde e para onde ele se expande? Se ele se expande, vai criando espaço na sua expansão ou se expande no espaço que não sabemos se é finito ou infinito? Se o espaço é finito e vazio, a expansão do universo terminará quando ele alcançar os limites do espaço. Mas, o que está além do espaço, senão o vazio? Se o espaço é infinito, o universo possivelmente jamais parará de se expandir. Neste caso, talvez seja também infinito o número de galáxias, estrelas, planetas, satélites e asteroides.

Podemos especular que o universo é um continuum de densidades diferentes. Assim, não há o vazio, e o espaço é a ilusão desse vazio, separando as coisas e os seres.

Hubert Reeves observou: “Mas, falando do universo, não se pode dizer que ele ocupa o espaço e que se insere no tempo. Assim como a matéria, tais dimensões é que estão incluídas no universo. Seria mais apropriado dizer que o universo cria ele mesmo, o espaço que ocupa e o tempo em que se insere.”

A hipótese de que o universo foi criado de algo não conflita com a de que ele foi criado com o tempo. Cada universo em particular tem seu tempo próprio, inserido no tempo de outro universo que é o seu referencial e do qual faz parte como subsistema. Este, por sua vez, foi criado no tempo de outro universo, do qual se originou e é seu referencial e assim indefinidamente. Para por fim a este regresso infinito, há de se admitir um universo-matriz de onde se originaram todos os demais universos. Este universo-matriz não foi criado no tempo, mas com o tempo, o tempo primordial e referencial de todos os tempos subsequentes ou tempos-universos. Neste universo-matriz, não há que se questionar o seu quando, mas o de quê ele foi criado.

A hipótese de que o universo se autocriou é tão metafísica quanto a crença de que Deus criou o mundo. Aliás, é paradoxal que algo se autocrie, porque já existe antes de se autocriar e, se existe antes, por que vai se autocriar? Não existe um autocriador, mas um criador, porque é preciso haver um criador para que haja criação. O criador não pode se autocriar, pois já existe. Afinal quem cria o criador?

Segundo a hipótese do big-bang, o universo se originou de uma singularidade, ou seja, de uma explosão, no nada, de um ponto infinitesimal que surgiu do nada e gerou tudo que existe. Essa hipótese levou John Wheeler a afirmar que ela representa “a maior das crises da física”. Podemos ir mais além: a hipótese do big-bang tem um forte odor metafísico.

Como um universo anômico se transformou em um universo gerido por leis constituídas ao acaso? Se essas leis já existiam, mesmo em potencial, elas não foram geradas aleatoriamente. Ora, um universo constituído de leis prévias do qual se originam todas as coisas é semelhante à ideia de Deus.

Atualmente, uma nova hipótese, denominada de Princípio Antrópico, postula que o universo pode ter sido criado com a finalidade específica de criar a vida e os observadores humanos. Porém, esta teleologia cosmológica não indica o quê ou quem criou o universo.

Geoffrey Chew e outros asseveram que o universo é uma teia dinâmica de efeitos inter-relacionados e sua estrutura é determinada pela coerência de todas as suas inter-relações. Se esta hipótese for verdadeira, cada ponto do universo é o local de convergência de todos os pontos e, em cada um deles, o universo se observa a si mesmo.

Cada coisa, cada organismo é um centro de contínua interação e permuta com todo o universo. Nada nos é próprio: tudo é o universo em incessante interação com tudo o que se mantém como forma nesse turbilhão universal.

Na Física, surgiu, recentemente, a hipótese das onze dimensões, segundo a qual ao nosso universo de três dimensões espaciais e uma temporal, acrescentam-se mais sete dimensões espaciais. Estas dimensões, apesar de ocultas, manifestam-se por meio das forças, como, por exemplo, a força eletromagnética.

Hugh Everett formulou a teoria dos universos paralelos, com base na Física quântica, mediante a qual, para cada possibilidade, existe um mundo paralelo, onde o evento realmente acontece. Assim, também, cada possibilidade do ser humano existe em seus mundos próprios e esses mundos e seus habitantes se desconhecem reciprocamente. Esta teoria se assemelha a um ensinamento ocultista segundo o qual o homem ocupa simultaneamente vários corpos em dimensões diferentes.

Será que os universos paralelos não são torções e retorções da realidade, à semelhança do anel de Moebius, gerando múltiplas interfaces e superfícies?

Existem mundos diferentes do universo físico ou os mundos não físicos são simples cópias ilimitadas dele? Se tudo o que aconteceu, virou cópia, há uma sucessão indefinida de cópias geradas pelo que está acontecendo. Ou seja, só o que está acontecendo agora é real e matriz das cópias de si mesmo. O passado é assim, um infinito número de cópias geradas pelo que agora está acontecendo, e o futuro, as probabilidades de se tornarem um acontecer.

*Valter da Rosa Borges é Procurador de Justiça aposentado e fundador e Presidente de Honra da Academia Pernambucana de Ciências.