A COVID-19 EM PERNAMBUCO

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Gauss M. Cordeiro (APC, cadeira 30)

As médias móveis de sete dias de casos confirmados e de óbitos em Pernambuco cresceram linearmente desde a primeira semana de novembro, só que a média móvel de óbitos mudou para um crescimento quadrático a partir da primeira semana de março deste ano. De forma similar, no Brasil, o crescimento linear dos casos e de óbitos começou na segunda semana de novembro, mas a evolução de óbitos passou a ser exponencial a partir da última semana de fevereiro. Ademais, o nosso Estado apresenta a segunda maior taxa de letalidade do País, sendo inferior apenas àquela do Rio de Janeiro.

Nós estamos vivenciando a pior fase da pandemia por conta das aglomerações que começaram com praias lotadas e festas de finais de semana em setembro, continuaram no período eleitoral em outubro e novembro e depois, de forma irresponsável, durante os meses de janeiro e fevereiro, sem nenhuma fiscalização rigorosa por parte dos órgãos competentes.

A pandemia funciona como um grande incêndio, mas no Brasil não se combatem os focos. Só existe um mecanismo para controlar a pandemia que nunca foi seguido com rigor no País: uso de máscaras, distanciamento de 1,5 m e higienização das mãos.  Esta é a razão do total fracasso do Brasil no combate à pandemia. Mesmo as pessoas vacinadas devem seguir esse mecanismo por muitos meses por conta da imensa quantidade de variantes do coronavírus, sendo que algumas delas, descobertas mais recentemente, apresentam grande potencial de contágio.

De cada 25 pernambucanos, um teve Covid-19, desconsiderando as subnotificações. Considerando o limite superior de 18 dias para a janela imunológica, ou seja, o período que compreende o momento da infecção, evolução da doença com ou sem sintomas (assintomático) e a produção de anticorpos, bem como a tendência atual da média móvel de casos confirmados em Pernambuco, estimamos que a probabilidade média, (durante o mês de abril) de uma pessoa escolhida ao acaso estar infectada pelo novo coronavírus no nosso Estado, seja próxima de 7/1000, podendo ser sintomática ou um portador assintomático. Esta razão, embora pareça reduzida, é 50 vezes maior do que a probabilidade de uma pessoa morrer de acidente de trânsito esse ano no Brasil.

O risco de encontrar, pelo menos, uma pessoa infectada aumenta rapidamente com o tamanho das aglomerações. Em um bar com 30 indivíduos, o risco é 19%.  Em um ônibus com 70 pessoas, o risco passará para 39%. Em uma estação de metrô ou em um baile funk com 100 pessoas, o risco atingirá 50%. Em outras palavras, pequenos riscos para indivíduos, rapidamente evoluem para grandes riscos nas aglomerações. Claro que a transmissibilidade depende da geometria da aglomeração e do quantitativo de uso de máscaras.

A evolução dos casos confirmados em qualquer região pode variar rapidamente dependendo de vários fatores, sendo que os dois mais importantes são as aglomerações e o relaxamento do mecanismo canônico de proteção. Por exemplo, a Índia tinha no início de março uma média móvel de sete dias de casos confirmados de 15 mil. Menos de dois meses depois, persiste num patamar de 250 mil. Inúmeros outros exemplos ocorreram em regiões pequenas e grandes. Claro que existe o risco de ocorrer um crescimento exponencial similar dos casos confirmados em Pernambuco (ou no Brasil) por conta dos dois fatores citados acima.

Embora seja impopular, devemos considerar urgente o fechamento imediato em nosso Estado de praias e a paralização de outras atividades não essenciais por pelo menos três semanas, com um toque de recolher das 20:00h às 6:00h, e medidas punitivas para reduzir aglomerações incluindo aquelas inerentes ao transporte público. Sem estas ações, a taxa de ocupação dos leitos de UTI e a fila para ocupação de leitos podem aumentar de forma descontrolada com consequente redução dos estoques de oxigênio e de insumos de intubação conduzindo o nosso combalido sistema público de saúde ao colapso. 

*Gauss M. Cordeiro, PhD em Estatística pelo Imperial College, Londres, é professor titular da UFPE, membro da APC.