- Academia Pernambucana de Ciências
- Informes APC/SBPC-PE
- Informe APC/SBPC-PE #2
- VALORAÇÃO DA INVENTIVIDADE
Leonardo Sampaio (APC, cadeira #3)
A escola foi criada, na sequência do processo de desenvolvimento humano, para possibilitar a transmissão formal de conhecimentos, em apoio à crescente especialização nos desempenhos e demandas do mercado de trabalho.
Enquanto ferramenta de desenvolvimento cumpriu e, cada vez mais, vem exercendo papel essencial na diferenciação entre desenvolvidos e vassalos do progresso alheio.
Partícipes do processo de desenvolvimento, como envolvidos no seu usufruto, ou construtores do edifício do saber humano como mão-de-obra descartável uma vez concluída a obra ou garimpados todos os recursos minerados.
Interessante observar que a partir da formalização do processo de ensino, mais e mais tem crescido o fosso entre “desenvolvidos” e “subdesenvolvidos”. Mais e mais tem crescido a desigualdade e a concentração de rendas, riquezas e progresso.
Seria isto mero acaso?
Como os “desenvolvidos” tem progredido em conhecimentos, técnicas e competência para explorar as riquezas dos “pobres subdesenvolvidos”? Qual o papel das escolas nesse avassalador processo de concentração de rendas e riqueza, semeio e usufruto de desigualdades?
A ciência da Administração indica que o progresso humano é fruto do uso cada vez maior de ferramentas. Ferramental administrativo, por exemplo, para o diagnóstico de necessidades, disponibilidades, potencialidades.
Uso desses diagnósticos para definição de objetivos, metas, programas, projetos e processos de envolvimento tanto mais bem sucedidos quanto maior o comprometimento dos atores por meio de ferramentas de planejamentos participativos holísticos. Holísticos porque usufruidores de conhecimentos e técnicas desenvolvidos pela competência das diversas ciências resultantes da capacidade intelectual humana de lucrar de experiências pregressas em prol do progresso.
Enquanto o homem desenvolvia ferramentas para a simplificação e mais valia das tarefas, a curiosidade filosofal da sua essência culminava com o apogeu grego do lançamento das bases científicas para seu progresso.
A escola grega, como ponto de convergência dos hemisférios cerebrais e geográficos do oriente e ocidente, valorizando a descoberta e o aprofundamento do conhecimento humano pela continuidade da discussão das ideias na formação de “escolas” e discípulos.
Esta continuidade sofreu brusca ruptura com o incêndio da Biblioteca de Alexandria, levando a que o “mundo ocidental” só tivesse renascimento graças ao trabalho preservador dos monges, com o percalço, porém, do promíscuo interlace de ciência e “religião”, mas diferente do “mundo oriental”, no qual a “civilização” se arraigou nos fundamentos suntzutianos de se conhecer a si própria para poder enfrentar os embates da vida. Entender-se como parte da energia divina para hominização do progresso humano ao invés do culto de ritos e custeio de nababos de seitas “universais”.
Esta, talvez, seja a diferença fundamental entre a escola dos desenvolvidos e o uso, por estes, da escola como técnica de colonização, apropriação de riquezas e venda dos seus valores, diferenças que levam a questionamentos:
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Até que ponto as escolas propiciam conhecimento e valoração das riquezas locais?
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São fonte de memória, discussão e uso das histórias, estórias e conhecimento dos processos de progresso comunitários locais sustentáveis?
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Como usar nossas escolas e formar nossos professores para descoberta das potencialidades dos alunos?
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Crescermos pelo uso da inventividade herdada da riqueza da nossa miscigenação, com componentes genéticos e memoriais de civilizações anteriores mesmo aos nossos nativos originais?
Miscigenação que tentamos desvalorizar e conhecimentos de civilizações tropicais que não cultivamos no uso dos conceitos de bacias energéticas e energias limpas como os jazimentos de sol, ventos e inventividade dos sertanejos.
Como construir uma civilização tropical sem colocar a escola como centro do progresso comunitário local sustentável?
A Carta do Fórum das Academias de Ciências indicou que nossas escolas têm “progredido” na formação de analfabetos funcionais e alfabetizados improdutivos. Como melhorar a competência dos nossos diplomados sem melhorar a qualidade da matéria prima entrante nas nossas universidades?
Sem valorizar a formação dos professores primários, os quais entram nos Centros de Educação como última opção pelos baixíssimos salários pagos pelas Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, mesmo que a Constituição reze que a educação é dever do Estado e direito de todos os cidadãos?
Somos formados como cidadãos ou escolados apenas como “inleitores”, com atrapalhos de leitura e desnumeração?
Ou muita verborragia quando as “ragias” já foram superadas na maior parte do mundo?
Que nossos meios comunicacionais e academias nos ajudem a salvar nossos alunos deste destino deseducativo.