- Academia Pernambucana de Ciências
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- Informe APC/SBPC-PE #2
- RESERVAS, POTENCIALIDADE, DISPONIBILIADES E BALANÇO HIDROGEO-LÓGICO DOS AQUÍFEROS POROSOS NO ESTADO DE PERNAMBUCO
Waldir Duarte Costa (APC, cadeira #36)
RESUMO – Uma vez estendidos os conceitos de potencialidade e disponibilidade para as águas subterrâneas em 1980 pela SUDENE e com metodologia de avaliação destes conceitos estabelecida por COSTA et al. (1998), foram avaliados os parâmetros volumétricos e o respectivo balanço hidrogeológico dos aquíferos porosos das bacias sedimentares do estado de Pernambuco. As bacias hidrogeológicas (correspondentes às bacias sedimentares) Pernambuco-Paraíba (bacia costeira), Cedro e Mirandiba no Sertão de Pernambuco, apresentam balanço hidrogeológico negativo que merecem atenção do órgão gestor.
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INTRODUÇÃO
Até final da década de 70, os estudos hidrogeológicos avaliavam apenas as reservas dos aquíferos porosos de bacias sedimentares, subdividindo-a em permanentes e renováveis; em 1980 por ocasião da elaboração do PLIRHINE pela SUDENE, os conceitos de potencialidade e disponibilidade, que eram utilizados apenas nos recursos hídricos superficiais foram estendidos para as águas subterrâneas.
Por ocasião da elaboração dos estudos hidrogeológicos da Região Metropolitana do Recife por meio do convênio entre a Universidade Federal de Pernambuco e o International Development Research Center (UFPE-IDRC) cada um destes termos foi caracterizado, subdividindo a disponibilidade em instalada, efetiva e explotável, além de introduzir o balanço hidrogeológico para caracterizar a relação de entradas e saídas da água no sistema hídrico subterrâneo (COSTA, et al., 1998).
O estado de Pernambuco possui apenas 14% do seu território representado por bacias sedimentares onde ocorrem os aquíferos porosos; na maior parte dominam as rochas cristalinas e cristalofilianas, comumente designadas de “embasamento cristalino”, onde a água subterrânea ocorre em espaços limitados representados por falhas, fraturas e fissuras, sendo este meio conhecido por aquífero fissural. Neste meio, torna-se bastante aleatória a avaliação dos parâmetros de reservas, potencialidade e disponibilidade, devido às suas características de heterogeneidade e anisotropia.
As bacias sedimentares de Pernambuco são as seguintes: Pernambuco-Paraíba, na região costeira; Jatobá na bacia hidrográfica do Rio Moxotó; Fátima, São José do Belmonte, Mirandiba, Carnaubeira da Penha e Betânia, todas na bacia hidrográfica do Rio Pajéu; Cedro na bacia hidrográfica do Rio Terra e Araripe, na bacia hidrográfica do Rio Brígida. Apenas esta última não possui ainda estudos hidrogeológicos com a caracterização dos parâmetros volumétricos dos recursos hídricos subterrâneos.
2. A BACIA SEDIMENTAR PERNAMBUCO-PARAÍBA
Síntese dos estudos do HIDROREC I e HIDROREC II:
HIDROREC I em toda a RMR (COSTA et al., 1998) – Toda a RMR, em 1995/97 (COSTA et al., 2002)
HIDROREC II – Municípios de Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe em 2001/02
Quadro 1– Recargas e exutórios do aquífero Beberibe na área do HIDROREC II
Município |
Recarga |
Exutório natural |
Exutório artificial |
Balanço* |
||||
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
|
Recife |
9,14 x 106 |
0,29 |
7,49 x 106 |
0,238 |
64,04 x 106 |
2,03 |
– 62,39 x 106 |
-1,98 |
Olinda |
9,72 x 106 |
0,3 |
5,49 x 106 |
0,17 |
62,15 x 106 |
1,97 |
– 57,92 x 106 |
-1,84 |
*Balanço = recarga – (exutórios natural + exutório artificial)
Quadro 2– Recargas e exutórios do aquífero Cabo na área do HIDROREC II
Município |
Recarga |
Exutório natural |
Exutório artificial |
Balanço* |
||||
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
|
Recife |
5,35 x 106 |
0,17 |
7,16 x 106 |
0,227 |
28,71 x 106 |
0,91 |
– 30,52 x 106 |
-0,97 |
Jaboatão dos Guararapes |
15,14 x 106 |
0,48 |
6,09 x 106 |
0,19 |
13,99 x 106 |
0,44 |
4,94 x 106 |
0,15 |
*Balanço = recarga – (exutórios natural + exutório artificial)
Quadro 3– Recargas e exutórios do aquífero Boa Viagem na área do HIDROREC II
Município |
Recarga |
Exutório natural |
Exutório artificial |
Balanço* |
||||
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
m3/ano |
m3/s |
|
Recife |
43,19 x 106 |
1,37 |
11,64 x 106 |
0,369 |
11,82 x 106 |
0,37 |
19,73 x 106 |
0,63 |
Jaboatão dos Guararapes |
29,34 x 106 |
0,93 |
3,97 x 106 |
0,13 |
2,7 x 106 |
0,08 |
22,67 x 106 |
0,72 |
*Balanço = recarga – (exutórios natural + exutório artificial)
Aquífero Barreiras nos municípios de Recife, Jaboatão dos Guararapes e Camaragibe:
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Recarga anual: 29,1 x 106m3/ano (0,96 m3/s)
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Exutório natural: 19,38 x 106 m3/ano (0,61 m3/s)
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Exutório artificial: 5,52 x 106 m3/ano (0,17 m3/s)
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Balanço= Recarga – (exutório natural + exutório artificial): 4,2 x 106 m3/ano (0,13 m3/s)
Verifica-se que até 1995, já havia um balanço hidrogeológico negativo da ordem de 30.106m3/ano, considerando o conjunto dos aquíferos Beberibe, Cabo e Boa Viagem.
No HIDROREC II este saldo negativo entre as entradas e saídas se acentuou chegando o aquífero Beberibe no Recife a 62,39.106m3/ano e a Olinda a 57,92.106m3/ano. Enquanto isto o aquífero Cabo apresentou um saldo negativo no Recife, de 30,52.106m3/ano e positivo de 4,94.106m3/ano no município de Jaboatão dos Guararapes. Quanto aos aquíferos Boa Viagem e Barreiras, apresentaram saldo positivo no balanço hidrogeológico.
O HIDROREC III não elaborou o balanço hidrogeológico, tendo adotado outros métodos de análise por modelos matemáticos, mas ficou evidenciado que os acentuados rebaixamentos que existiam na planície do Recife, ficaram bastante reduzidos, inclusive com recuperação de níveis na Zona A, após a implementação da RESOLUÇÃO CRH N° 04/2003 que “Aprova o Mapa de Zoneamento Explotável de Águas Subterrâneas na Região Metropolitana do Recife, do estudo HIDROREC II.”
3. A BACIA SEDIMENTAR DO JATOBÁ (COSTA; COSTA FILHO; SILVA, 2012)
Considerando a multiplicidade de aquíferos, foi efetuada uma avaliação dos parâmetros volumétricos para cada aquífero, como mostrado no quadro acima. Em todos os aquíferos da bacia ocorre ainda um saldo positivo no balanço hidrogeológico, apesar de, localmente, o sistema aquífero Tacaratu/Inajá esteja sofrendo rebaixamentos acentuados dos seus níveis devido a explotação intensiva para abastecimento público ou para projetos de irrigação.
4 – BACIA SEDIMENTAR DE SÃO JOSÉ DO BELMONTE (COSTA; SANTOS, 2006)
O aquífero Sergi ocupa uma reduzida área da bacia, sobreposto ao aquífero Tacaratu que ocorre em toda a bacia sedimentar. Constata-se que os aquíferos desta bacia ainda estão com saldo positivo no balanço hidrogeológico apesar de já estar havendo um superexplotacao localizada, principalmente na sede do município.
Mais de 1.000 poços vem captando o aquífero Tacaratu, 80% dos quais são localizados na área urbana da sede municipal, além de projetos de irrigação que operam na região.
5 – BACIA SEDIMENTAR DO CEDRO (COSTA et al., 2019)
Localiza-se na bacia do Rio Terra e se distingue das demais da bacia hidrográfica do Rio Pajeu por participar simultaneamente dos estados de Pernambuco e Ceará, além de diferir por ser o aquífero nesta bacia o Mauriti, enquanto nas bacias do Pajeu o aquífero é o Tacaratu. O balanço hidrogeológico da bacia é negativo, face a superexplotacao que ocorre em grande parte da bacia.
6 – BACIAS DE MIRANDIBA, CARNAUBEIRA DA PENHA E BETÂNIA (COSTA et al., 2019)
Apenas a bacia sedimentar de Mirandiba apresenta balanço hidrogeológico negativo
7 – CONCLUSÕES
Os recursos hídricos subterrâneos no estado de Pernambuco vêm sendo explotados de maneira exaustiva, estando em algumas bacias hidrogeológicas – Pernambuco/Paraíba, Cedro e Mirandiba – em situação comprometedora, merecendo um monitoramento contínuo do órgão gestor de recursos hídricos, com base nas resoluções do Conselho Estadual de Recursos Hídricos.
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, W. D. et al. Estudo Hidrogeológico da Região Metropolitana do Recife – HIDROREC I – Convênio entre o IDRC (International Development Reseach Center) do Canadá e a UFPE – Universidade Federal de Pernambuco. Recife- PE. 1998, 130p.
COSTA, W. D. et al. Estudo Hidrogeológico de Recife, Olinda, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes – HIDROREC II. Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco, Recife-PE. 2002, 151p.
COSTA, W. D.; SANTOS, M. V. Planejamento e Monitoramento dos Aquíferos da Bacia Sedimentar de São José do Belmonte/Pe. Anais: XIV Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas-Curitiba/PR, 6p 2006.
COSTA, W. D.; COSTA FILHO, W. D.; SILVA, G. D. A gestão das águas subterrâneas na bacia sedimentar do Jatobá-PE – Anais: XVII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas – ABAS – Bonito-MS, 6p. 2012.
COSTA, W. D. et al. Estudos hidrogeológicos e de modelagem numérica para identificação do potencial dos aquíferos das bacias sedimentares de Cedro, Carnaubeira da Penha, Mirandiba e Betânia. Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco, 2019, 433 p.