- Academia Pernambucana de Ciências
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- Informe APC/SBPC-PE #4
- DA NAU AO B.A.N.I.: DESIGN DECOLONIAL PARA INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
Alex Sandro Gomes(APC cadeira #50) e Tiago Thompsen Primo (Convidado da APC)*Tiago Thompsen Primo
Em alguns dias inicia mais um ciclo de congraçamento, interação, construção coletiva de conhecimento e sobretudo uma intensa aventura de construção colaborativa de conhecimentos sobre a Informática na Escola com o Congresso Brasileiro de Informática na Educação. Estamos coordenando o X Congresso Brasileiro de Informática na Educação (CBIE 2021). As chamadas estão abertas e disponíveis em https://linktr.ee/CBIE2021.
Este ano o tema do evento é provocativo, e merece uma boa explicação. “Da nau ao B.A.N.I.: Design Decolonial para Informática na Educação” faz alusão à velocidade com a qual chegamos a uma situação complexa, desafiadora e com muitas oportunidades. Como as complexidades dos ‘pluriversos’ educacionais brasileiros pode ser apropriada por nossa academia?
Até pouco tempo vivíamos em um mundo ‘VUCA’, que é o anagrama para Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity. O conceito foi criado pelo Army War College, dos Estados Unidos, no final dos anos 1980, para descrever o cenário do mundo pós-Guerra Fria: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (traduzido para o português).
Nem bem nos adaptamos ao mundo VUCA e já chegamos no caos! A expressão BANI é a que descreve o estado do mundo, e é o anagrama para acrônimo para Brittleness, Anxiety, Nonlinearity and Incomprehensibility. O conceito foi proposto por Jamais Cascio, professor da Universidade da Califórnia, historiador, pesquisador e membro do Institute for the Future. “Facing the Age of Chaos” é o título de um artigo publicado por ele próprio. Em português, as características do mundo BANI, em tradução livre, seriam: fragilidade, ansiedade, não-linearidade e incompreensibilidade.
Atravessamos o mundo VUCA, adentramos na era BANI, mas ainda não nos livramos da pesada herança colonial. Apenas nós podemos resolver isso, nenhuma multinacional irá nos ajudar a tomar consciência do racismo estrutural e das relações de poder elitista e assimétrica que lutamos em desmantelar.
Parafraseando João Cabral de Melo Neto (NETO, 1955), a provocação é a seguinte: quais problemas cabem à comunidade de especialistas em Informática na Educação e simpatizantes “nesse latifúndio” e como abordá-los?
O tema do “X Congresso Brasileiro de Informática na Educação” é um convite à reflexão colaborativa e transdisciplinar sobre as complexidades em torno da Informática na Educação. Subjacente ao mesmo há a certeza de que somos Designers e que somos hábeis para criar soluções para problemas de nossos sistemas educacionais. Ainda sobre a intenção do tema, subjaz a ideia de que nossas intervenções podem resolver problemas complexos criando circunstâncias mais sustentáveis e promotoras de bem-estar.
A expressão ‘decolonial’ faz referência ao movimento epistemológico latino-americano de renovação crítica e utópica das ciências sociais na América Latina que ocorreu no início do Século XXI (BALLESTRIN, 2013). O movimento propunha a radicalização do argumento pós-colonial no continente por meio da noção de “giro decolonial” por meio da qual intelectuais se associam para afirmar sua capacidade para criar modelos, teorias, métodos, técnicas e processos próprios e adequados para resolução de nossos problemas (SALGADO; DA MOTTA; SANTORO, 2015).
No caso particular da Informática na Educação, como podemos realizar o ‘design’ de soluções que correspondam às características singulares dos sistemas educacionais dos distintos níveis de ensino, nos distintos rincões de nosso Brasil ‘pluriverso’, conforme explica o antropólogo Arturo Escobar.
“Projetar para o pluriverso é reparar os danos causados pela ontologia capitalista/colonial heteropatriarcal da separação.” (ESCOBAR, 2020).
Bem, é isto… e muito mais! pois, desejamos trazer ‘nosso caos educacional’ para o seio de nossa comunidade e para as dinâmicas de nosso congresso, conectar a comunidade brasileira de especialistas em Informática na Educação como esta realidade que não podemos negar nem nos esquivar.
Coordenação Geral em nome da CEIE 🙂
Sobre o CBIE:
Durante o X Congresso Brasileiro de Informática na Educação ocorrem diversos eventos:
- XXXII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação com suas trilhas:
- Trilha 1: Abordagens Metodológicas e Tecnológicas para Educação Básica e Superior
- Trilha 2: Jogos Educacionais e Tecnologia Inovadora para Educação
- Trilha 3: Fatores Humanos em Tecnologia Digital na Educação
- Trilha 4: Sistemas Inteligentes e Adaptativos
- Trilha 5: Pensamento, Criatividade e Design Computacional
- Trilha 6: Tecnologias na Educação em Computação
- XXVII Workshop de Informática na Escola com suas trilhas:
- Trilha 1: Relatos de experiência de uso de tecnologias digitais de informação e comunicação na educação
- Trilha 2: Formação de recursos humanos para uso das tecnologias digitais de informação e comunicação na educação
- Trilha 3: Impactos das tecnologias digitais de informação e comunicação na sociedade
- Trilha 4: Mostra de Práticas de Informática na Educação
- Concurso de Teses e Dissertações
- Jornada de Atualização em Informática na Educação (JAIE)
- Concurso integrado de desenvolvimento de soluções de tecnologia e objetos de aprendizagem para a educação – APPS.EDU
- Espaço de Criatividade
As datas importantes de nossas atividades estão disponíveis em:
Referências
BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Rev. Bras. Ciênc. Polít., Brasília , n. 11, p. 89-117, Aug. 2013. Disponível em <América Latina e o giro decolonial>. Acessado 22 de Mar. 2021. https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004.
ESCOBAR, Arturo. Pluriversal Politics: the real and the possible. Duke University Press, 2020.
NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina, 1ª edição. Brochura formato de cordel. TUCA, 1955.
SALGADO, Ana Carolina; DA MOTTA, Claudia Lage Rebello; SANTORO, Flavia Maria. Grandes Desafios da Computação no Brasil-Relatos do 3º seminário. Sociedade Brasileira de Computação, 2015.
* Tiago Thompsen Primo, Coordenador da Comissão Especial de informática na Educação da SBC e do CBIE’2021.